terça-feira, 17 de junho de 2014

Fim de Governo... Carlos Augusto Rosado está magoado

Por Dinarte Assunção (Portal Noar)
              Ao lado da mulher, Carlos Augusto ajuda a comandar o Estado. (Foto: Assessoria de Comunicação do Estado)

Quando a governadora Rosalba Ciarlini adentrou a sede do diretório estadual do DEM, naquela segunda-feira, 2, para ser levada ao cadafalso e ser enforcada pelo próprio partido, uma tensão vibrou no ambiente. Assessores fizeram saber que ela havia chegado para confrontar o grupo de José Agripino. Houve uma inquietação. Jornalistas corriam de um lado para outro com gravadores à mão. Todos estavam em polvorosa, exceto uma figura, que não demonstrava nenhuma inquietação, embora padecesse internamente em seus dilemas íntimos.
Carlos Augusto de Souza Rosado se fez à luz da inteligência e à sombra da imprevisão. Enquanto todos externavam à flor da pele as emoções que resultaram na cassação branca de sua esposa, ele se mantinha impassível por uma questão de estratégia. Movimentava-se discretamente; fugia das objetivas das câmeras e desviava o caminho dos repórteres. Quando, enfim, a manobra de José Agripino restou vitoriosa, o golpe atingiu Rosalba de um jeito que a fez chorar. Carlos olhou para suas lágrimas, sem nada dizer, sem nada fazer. Atravessou o saguão de entrada ao lado da esposa e saiu tão inabalável quanto entrou.
O episódio gestou em Carlos Augusto uma mágoa, o que no marido da governadora Rosalba Ciarlini significa a iminência de um cataclisma político, porque é capaz de jogar as certezas pelo avesso e afligir com uma pergunta todos a seu redor: o que, afinal, será capaz de fazer o primeiro-ministro do Governo do Estado?
“Ele poderá fazer tudo, ou nada. Poderá se jogar no fundo de uma rede e se entregar, ou assumir o comando da nau e ir para a proa”, anota uma das várias fontes que falaram com a reportagem sob a garantia do anonimato. Carlos Augusto tem disso: desperta respeito e temor. “E ninguém quer se indispor com ele”, completa o interlocutor.
A gênese da mágoa vem das cassações de sua esposa. Quando viu que o Tribunal Regional Eleitoral impôs a Rosalba dois afastamentos, o primeiro-ministro se inquietou. “Como é possível? Aqui se pode fazer tudo”, disse à época. Desde então, ele não tem sido o mesmo.
As inquietações do filho de Dix-sept Rosado se agravaram desde aquela segunda-feira, 2, quando ele viu o amigo de meio século conduzir uma manobra de cassação branca contra a sua esposa, no diretório estadual do DEM. A repercussão do que o senador José Agripino fez a Rosalba Ciarlini ainda não acabou. Se Carlos Augusto, mentor político da esposa, não conseguir reverter a derrota na convenção do DEM, que ocorre neste domingo, a sombra da imprevisão ofuscará a todos.
“Pode apostar que ele tem já em mente o plano A e o B e o C. Se o primeiro não der certo, ele com certeza já sabe como agir”, explica  Carlos Rosado, hoje sócio da Harabello Turismo, mas que conviveu na intimidade com Carlos Augusto pelos três mandatos do secretário-chefe do Gabinete Civil na Assembleia Legislativa, na década de 1980.
Centralizador
Todas as fontes consultadas pela reportagem foram inquiridas inicialmente com uma pergunta: qual palavra define Carlos Augusto Rosado? A maioria não titubeou: “Ele é centralizador”.
O estilo do ex-deputado estadual despertou no território das suposições afirmações categóricas sobre quem, de fato, detém o poder. Mentor político da esposa, Carlos Augusto Rosado é apontado com o chefe do poder para o qual a mulher foi escolhida. Assim, foi chamado de prefeito de Mossoró, Senador da República e, agora, governador do Estado.
“Ele nunca fala assim: eu sou o governador, mas a postura é essa. Ele não diz assim ‘quem manda aqui sou eu’, mas a postura é de quem manda”, comenta à reportagem um interlocutor.
No exercício do poder, o marido da governadora Rosalba Ciarlini tem hábitos britânicos. Chega ao gabinete às 9h30 e atende ate as 19h. Nesse intervalo de quase 10 horas, não come nada. Recebe o secretariado e políticos – desde que para tratar de assuntos institucionais. A recepção de empresários ele delega à esposa.
Para um louvaminheiro da intimidade do casal, os comentários a respeito desse assunto são maldosos e infundados. “Ele é brilhante na política. E ela não é nenhuma amadora. Por que ele não pode colaborar com as gestões dela? Por que chamá-lo de governador? Acho que é inveja”.
De que exatamente teriam inveja os detratores do casal? A resposta precisou ser colhida com cautela pela reportagem. Mesmo sob o anonimato, o assunto foi espinhoso para algumas fontes. “Esse incômodo em falar sobre isso não reflete um certo fundo de verdade?”, indagou o repórter. “Não, é raiva mesmo”, repondeu uma figura enquanto sorvia um café com leite em um restaurante de Petrópolis.
Das mulheres que se projetaram na política do Rio Grande do Norte, a governadora Rosalba Ciarlini é a única que tem tão abertamente uma relação de cooperação com seu esposo. Quando o repórter insistiu sobre por que os detratores do casal teriam uma inveja dessa relação, uma fonte explicou:
“Ora mais, eles têm um casamento de anos. São cúmplices e felizes. Que outra mulher da política potiguar pode dizer o mesmo? Você não acha que há dor de cotovelo de quem fica espalhando essa boataria?”. “Não sei sobre dor de cotovelo, mas há uma outra mulher com situação semelhante à de Rosalba: a deputada Sandra Rosado”, devolveu o repórter. “Poupe-me. Essa comparação não tem sentido”, devolveu o interlocutor dispensando a xícara com metade do café com leite.
Atualmente, governadora Rosalba Ciarlini não se incomoda com o assunto, mas ele a chateou. No início de seu mandato, quando a Arena das Dunas não passava de um sonho, vários repórteres esperavam em um sábado ensolarado a chefe do Executivo estadual no canteiro de obras do estádio. Tão logo chegou, um afoito jornalista perguntou: “Governadora, quem manda eu seu governo é a senhora ou seu marido?”. Rosalba girou nos calcanhares e voltou ao carro, deixando os repórteres enfurecidos.
“Não vejo nada demais nessa relação dos dois. Eu poderia resumi-la da seguinte forma: ela lida dos assuntos administrativos e ele cuida mais da parte política. Ele sempre foi muito bom nisso. Qual o problema em colaborar?”, indagou outro componente da intimidade do casal.
Nos primeiros 10 meses da gestão Rosalba Ciarlini, Carlos Augusto protagonizou a primeira crise do governo, quando o grupo do vice-governador Robinson Faria rompeu com a gestão. No esteio da convulsão, a crise se amplificou quando o então secretário do Gabinete Civil, Paulo de Tarso Fernandes, declarou à jornalista Thaisa Galvão – após algumas doses de uísque – que Carlos era o governador de fato e que, até ali, o Rio Grande do Norte era gerido através de decisões de alpendres, se referindo ao local de onde Carlos Augusto comandava a máquina. A repercussão foi a pior possível.
Os jornais estamparam a crise política em suas manchetes por dias seguidos. Quando a crise caiu no esquecimento, um fato novo remexeu o tema. Criado com o propósito de deslanchar o desenvolvimento do Rio Grande do Norte, o conselho político gestado em 2012 reunia praticamente todos os caciques da cena política local.
Garibaldi Filho, Henrique Eduardo Alves, José Agripino Maia, João Maia, Ricardo Motta, Rosalba Cialini e Carlos Augusto Rosado integravam o grupo ao qual ficou facultada a tarefa de criar meios para o progresso do Estado. Restou tudo fracassado porque a premissa básica, o diálogo, não foi executada, e uma nova crise política ganhou as páginas dos jornais.

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